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O SOFRIMENTO DE MASHIACH (II)

Na mensagem anterior apresentamos passagens bíblicas, talmúdicas e místicas testemunhando que, de acordo com a tradição judaica, parte do processo de revelação de Mashiach inclui um período de intenso sofrimento e de séria doença. Foram oferecidas duas razões básicas pelos eruditos. Nesta mensagem discutiremos a primeira, a de que Mashiach é um líder intimamente ligado ao seu povo.

É-nos ensinado que “A geração é o seu líder, e o líder é a geração”. Se há uma íntima conexão entre qualquer líder e sua geração, muito mais profundo deve ser o relacionamento entre Mashiach e a geração que o saudará!

Existe uma famosa história sobre o Miteler Rebe, o segundo Rebe de Lubavitch. Numa audiência particular, um rapaz lamentou-se sobre algumas transgressões relacionadas à juventude. O Miteler Rebe descobriu seu antebraço e mostrou uma parte que estava enrugada, dizendo: “Veja como minha pele está grudada em meus ossos, e tudo isto veio de seus ‘pecados da juventude’.” A história mostra que, a despeito da elevada estatura moral do Miteler Rebe, que ele estava tão vinculado a seus seguidores, que o estado espiritual insatisfatório de alguém podia afetar sua saúde física — literalmente, enrugando sua pele.

Depois que o povo judeu pecou cultuando o Bezerro de Ouro, D’us disse que destruiria os judeus e formaria uma nova nação por meio de Moisés. Mas Moisés, que não pecara, que sequer estivera com o povo naquela ocasião, replicou que só gostaria de prosseguir se D’us perdoasse o povo, se D’us não concordasse, Moisés lhe solicitaria que fosse retirado da Torá.

Aceitar a liderança do povo judeu significa aceitar as conseqüências de suas ações, também. Ou, como diz o Talmud, assim como os sacrifícios obtêm expiação, assim também a morte dos judeus é uma expiação.

A disposição para se sacrificar por outrem, de sofrer por outrem, mesmo, especialmente, quando a falta ou o problema é da outra pessoa, faz parte natural de qualquer relacionamento. Na verdade, pode ser até mais básica, fundamental de um relacionamento. Como um pai em relação ao filho, um líder não precisa estar tão ligado e envolvido com sua geração, que ele assume responsabilidade por ela, está disposto a sofrer por ela, faz penitência por seus erros e transgressões. Ou, como está expresso na obra ética Messilat Yesharim, quando alguém ama profundamente outra pessoa, esse alguém busca oportunidades de exprimir este amor, enfrentando dificuldades por amor à outra pessoa.

Que Mashiach esteja não somente disposto a sofrer, mas, D’us não o permita, tenha mesmo de sofrer por seu povo, decorre naturalmente de seu relacionamento, o inseparável laço que tem com eles. Esta ligação, no entanto, tem um efeito recíproco, pois a doença e a dor que Mashiach aceita por nossa causa deve nos mudar, também. Quando as crianças vêem um de seus pais sacrificando-se por elas, quando os soldados vêem um comandante assumindo grandes riscos, isto suscita uma determinação de melhorar, de contribuir, de ser digno do que está sendo feito por eles. Daí Ramban explicar que a dor de Mashiach resultará em nos corrigirmos, “pois, devido ao mérito dele, D’us nos perdoará e seremos curados de nossas transgressões”.

Que o sofrimento de Mashiach resulta de nossas transgressões não sendo, D’us nos livre, Divinamente decretado, nos leva a outra conseqüência crítica. Significa que podemos poupar Mashiach de sua dor e acelerar sua revelação aumentando nossos méritos. Nossas ações — nossas palavras, nossos pensamentos — contam na luta para trazer a redenção. Assim, o místico e erudito do século XVI Alshich escreveu que, pela tsedacá deles e por sua crença em Mashiach, o povo judeu realmente fortifica e dá vigor a ele. Para tanto, mesmo os não-judeus podem contribuir. “Por seus atos de retidão as pessoas aumentam sua força e com a sua crença realçam o poder de seu méritos.”

Por nossas ações de bondade e caridade, pelo aumento de nossa caridade e conhecimento e crença em Mashiach, podemos atingir a meta da Redenção — um fim a todo sofrimento.