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O SOFRIMENTO DE MASHIACH (I)

Numa das mais famosas passagens do Talmud concernentes a Mashiach, Rabi Yehoshua Ben Levi pergunta a Eliyahu, o profeta, quando Mashiach virá. Eliyahu diz ao Rabi Yehoshua Ben Levi que pergunte ao próprio Mashiach. Onde está Mashiach? Sentado entre pobres adoentados ao portão de Roma, desatando e recolocando suas ataduras sobre suas feridas.

Esta passagem é seguida pela sugestão de que Rabi Yehudá HaNassí, que organizou e publicou a primeira parte do Talmud, poderia ser Mashiach porque ele sofria de doenças e era completamente justo.

Isaías descreve detalhadamente “um homem de dores e acostumado com a doença”. Muitos comentadores judeus, tais como Ramban e Abarbanel, explicam isto como sendo uma referência a Mashiach.

Muitas passagens do Livro dos Salmos falam dos sofrimentos e das doenças do Rei David. Nossos sábios explicam também como uma referência aos sofrimentos e doenças do descendente do Rei David, Mashiach.

O Maharal de Praga, o grande líder, filósofo, autoridade legal e místico que viveu no século 16 da era comum, discutiu a natureza e as razões para a dor que Mashiach teria de suportar.

Alshich, um cabalista do século dezesseis, explica que Mashiach aceita seu sofrimento de bom grado, com amor pelo povo judeu e toda a humanidade, e que quando finalmente Mashiach se revelar, nós nos daremos conta de que ele escolheu sofrer. Compreenderemos então quantos esforços ele investiu suportando o sofrimento da geração.

Rabi Shneor Zalman, o fundador do Chassidismo Chabad, na verdade, detalha a natureza e os sintomas da doença de que Mashiach sofrerá.

O Chafets Chaim, em seu trabalho sobre ansiar por Mashiach, discute o conceito das “dores de parto de Mashiach”. De fato, esta idéia, comparar o tempo de Mashiach à dor e ao tormento de dar à luz, é encontrada em todas as discussões filosóficas e místicas sobre Mashiach ao longo dos séculos. Com toda certeza, se a geração na qual Mashiach vier, infelizmente, conhecer muita dor e sofrimento, então o próprio Mashiach partilhará — na verdade, assumirá a porção maior — da doença e da dor.

Por quê? Por que precisa Mashiach, a pessoa que trará a Redenção ao mundo, suportar a doença e a dor? Podemos entender que haja um período de dúvida — talvez, D’us não o permita, rejeição por alguns, falta de vontade de aceitar o que a Torá diz ou não estarmos ainda educados nos conceitos de Mashiach e Redenção. Esta parte do processo podemos aceitar — com relutância — porque o processo de Redenção, de afastar a grande escuridão, começa com uma pequena luz.

Mas a necessidade de lutar, de ensinar, de — como diz Maimônides — curar as feridas, não exigiria doença física. Por que, então, ficar doente parece ser um pré-requisito para trazer bondade e caridade ao mundo?

Existem duas razões básicas. A primeira tem a ver com o relacionamento entre um líder e seu povo — mais especificamente, entre Mashiach e a geração que o saudará. Há uma íntima conexão entre eles, como ensinam nossos sábios, “A geração é o líder, e o líder é a geração”. Em função disso, o sofrimento de Mashiach é por amor desta geração — e para expiar por ela.

A segunda razão para a doença de Mashiach relaciona-se com o próprio Mashiach. Como explicamos antes, a Redenção é um processo: o Mashiach em potencial vem a ser o presumível Mashiach, e depois é confirmado Mashiach. Cada estágio representa uma transformação da pessoa. Para que Mashiach possa passar para o estágio seguinte, ele precisa, num certo sentido, deixar de ser o que ele era. Qualquer mudança num indivíduo — os estágios da vida — cria uma sublevação, um desequilíbrio. Então, a doença de Mashiach faz parte da transformação, do processo de se tornar Mashiach no pleno sentido, o Rei e Redentor.

Nas próximas duas mensagens, falaremos com mais detalhes sobre cada uma destas explicações.