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29 — SHLOMO (SALOMÃO)

Mashiach, sabemos, será um rei. Ele também trará paz, não só para o povo judeu, mas para o mundo todo. Que conexão existe entre estes dois conceitos — realeza e paz? Poderíamos pensar, de fato, que eles se opõem; na verdade, mais freqüentemente identificamos um rei por suas duas funções mais óbvias: governar os outros e fazer guerra. Aparentemente, ambas as tarefas conflitam com a idéia de paz. Assim, como pode Mashiach, um rei — verdadeiramente, um rei “que travará as guerras de D’us”, como Maimônides afirma, guerras físicas ou espirituais —, trazer paz, uma ausência de conflito e de dominação?

Na verdade, quando Maimônides escreve que “o Rei Mashiach é da Casa de David e da semente de Shlomo”, parece dar ênfase à contradição, em vez de resolvê-la. Podemos realmente compreender a primeira parte desta declaração: Mashiach precisa vir “da Casa de David” porque uma vez “David foi ungido, merecendo a coroa da realeza” para si mesmo e para seus filhos, para sempre. Como o Rei David representa a raiz, ou fonte, espiritual da realeza, Mashiach precisa ser da Casa de David, pois ele também será um rei, isto é, um governante e um guerreiro.

Mas por que Maimônides especifica que Mashiach também precisa ser “da semente de Shlomo?”. Que conexão inata existe entre Shlomo — Salomão — e Mashiach?

Comecemos examinando seu nome hebraico — Shlomo — que vem da palavra Shalom, paz. Em português, “paz” significa somente uma ausência de hostilidades, uma falta de pressão, um estado de descanso e tranqüilidade. Mas em hebraico, “Shalom” implica algo mais: inteireza, totalidade, um estado de perfeição e cumprimento, realização. “Shalom” não é uma ausência ou falta, mas um complemento e uma culminação. “Shalom” nada remove; antes, “Shalom” eleva e transforma todos os aspectos num todo integrado, finalizado.

Por seu próprio nome, então, Shlomo (Salomão) indica um tipo diferente de soberania, baseado não na conquista e na dominação — guerras e realeza — mas uma soberania baseada na realização e na compreensão.

Dito de outra maneira, podemos dizer que o reino de Shlomo exemplificou a natureza da redenção completa e verdadeira. Ainda que Mashiach precise ser descendente da fonte da realeza judaica, David, mesmo assim, por causa das guerras que tem de travar, porque o Rei David “derramou o sangue de muitos”, ele não pôde construir o Beit HaMicdash — o Templo Sagrado. Mas durante os dias de seu filho Shlomo, as nações vizinhas pagaram tributo, o Beit HaMicdash foi construído e as nações reconheceram a liderança do rei de Israel, vivendo em harmonia.

Mas por que haveriam as nações de vir a Shlomo? Por que elas trouxeram tributos? Seguramente devido ao tipo de liderança que Shlomo exerceu — ele era “mais sábio do que todos os homens”. Reconhecendo esta sabedoria — esta perfeição e esta realização — de boa vontade as nações subjugaram sua compreensão, sua ânsia de conquistar, à compreensão de Shlomo. Pelo fato de Shlomo, com sua visão, lhes ter dado paz, isto é, inteireza e realização, de boa vontade, elas lhe trouxeram tributos. Espiritualmente, explicam os nossos sábios, isto significa que enquanto em outros tempos o povo judeu tinha de sair e reunir as centelhas de kedushá, de santidade, que tinham sido espalhadas pelo mundo afora, durante o tempo de Shlomo as nações voluntariamente traziam as centelhas para Jerusalém. Assim sendo, foi como que uma antecipação do tempo quando “não haverá mal nem destruição porque a terra se encherá de conhecimento”.

Assim sendo, quando o Profeta nos diz que “A sabedoria de Salomão era maior do que toda a sabedoria do Egito”, isto quer dizer, simplesmente, a completa compreensão dos tempos de Mashiach ultrapassa mesmo a maior compreensão dos tempos do exílio.

Esta, pois, é a conexão: David é a fonte da realeza, mas Shlomo, mediante a sabedoria, cria uma soberania submetida à boa vontade, desta forma completando a própria realeza. Os dois aspectos se unirão em Mashiach, quando haverá um conhecimento universal da Divindade, uma conscientização da verdade da Torá — e uma benevolente aceitação da realeza de Mashiach, que ensinará de tal forma que, como diz o profeta, “toda carne verá junta, pois a boca de Hashem falou”.

Assim, enquanto Mashiach precisa ser descendente do Rei David, o tempo de Shlomo serve como protótipo da Shalom — paz — completa a vir, a era da Redenção.