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25 — MASHIACH E JUSTIÇA

Quando Mashiach vier, ensinam nossos sábios, haverá paz universal. Isto significa, porém, que também precisará haver justiça universal. Pois o fundamento da verdadeira paz é a verdadeira justiça: quando uma pessoa tanto sabe como sente que está sendo tratada com justiça, que está recebendo o que merece, que as coisas caminham segundo o modo como devem ser, que os bons estão sendo recompensados — então ele está seguro de que a justiça está sendo feita e ele está contente. Se uma pessoa sente que tem o que quer, e sabe que só quer aquilo de que precisa, ela estará em paz consigo e, portanto, com o mundo. Pois a justiça inclui não somente correção e restituição, mas também compreensão: precisamos não só fazer o que é certo, mas também precisamos acreditar que assim é.

Hoje em dia, obviamente, ainda não atingimos tal grau de justiça. Temos ainda deficiência de reconhecer o culpado ou de identificar o inocente. Que está faltando em nosso sistema de justiça? Por que nossos juízes não podem julgar de modo justo? E como Mashiach nos mostrará a verdadeira justiça?

Parte do problema está em que só podemos tentar ações: o coração e a mente de uma pessoa estão, em última instância, ocultos. Dentro do acusado há uma profundidade que não dá para conhecer nem para alcançar. Assim, a imagem que temos de um caso judicial nunca é completa, mas sempre, num certo sentido, superficial. Na verdade, nunca dá para cumprirmos o princípio de Hilel: “Não julgue o seu próximo enquanto você não se puser no lugar dele”. Não podemos alcançar esse lugar — os meandros de sua mente, as sutilezas de seu coração.

Assim, temos de nos apoiar nas provas e no testemunho, isto é, na visão e na audição. Mas, como sabemos, a prova pode ser falsificada e o testemunho pode ser mentiroso. O som e a visão, em outras palavras, podem enganar. Todos já nos vimos diante de uma ilusão de óptica, tal como o simples truque de colocarmos um lápis “retinho” dentro de um copo de água para fazê-lo parecer torto. E com certeza temos familiaridade com o quanto problema um simples desentendimento, ou o simples fato de não ouvirmos alguma coisa, pode causar. Mesmo assim, com este fundamento, somos juiz e acusado.

Visto que precisamos pôr em prática a justiça segundo o melhor de nossas capacidades, temos de nos apoiar nas provas e no testemunho, os sinais externos vistos e ouvidos. Em termos ideais, não obstante, devemos ter algum senso interno, alguma maneira de fazermos uma nítida distinção entre o culpado e o inocente, entre aquele que não tem remorsos e aquele que está arrependido.

Mashiach possuirá este senso interno. Daí porque Isaías profetiza que Mashiach “sentirá o cheiro do temor de Hashem, e não julgará segundo a visão de seus olhos e o que os seus ouvidos escutarem”. Explica o Talmud que isto significa que Mashiach “cheirará e julgará”, reconhecendo a parte culpada pelo seu odor.

Qual a conexão entre justiça e cheiro? O sentido do olfato é incomparável porque atinge a essência de uma pessoa. Dizem-nos os cientistas que o olfato é mais sensível do que qualquer outro sentido, pois bastam umas poucas moléculas para desencadear os mais poderosos sentimentos, lembranças e emoções, impressionando uma pessoa como nenhuma outra sensação o faz. Realmente, lembramo-nos de alguém com odores determinados, pois isto tem o maior efeito direto sobre o cérebro.

Isto ajuda a explicar por que os sábios dizem que a alma desfruta o cheiro, mas não o corpo, pois o sentido do olfato tem um aspecto espiritual, a capacidade de atingir a essência de alguma coisa.

Mashiach, então, virá julgar não de acordo com a visão ou a audição, com o superficial e o parcial, mas pelo odor, experimentando a essência. Ele perceberá mais do que as ações óbvias, ultrapassará qualquer possível subterfúgio ou perjúrio. Ele detectará diretamente todos os detalhes relevantes, até chegar a incluir os fundamentos psicológicos de uma pessoa.

Mashiach se identificará com o acusado, verdadeiramente estará no lugar de seu próximo porque ele perceberá — com a imediação, força e verdade do odor — a essência de uma pessoa. Ele “detectará” pecados latentes, aqueles dos quais a pessoa nem se dá conta; ele descobrirá o mérito num transgressor, discernindo a fraqueza, a tentação que o subjugaram. E ele imporá a reparação adequada. Resumindo, Mashiach será capaz de julgar com absoluta certeza.

Como resultado, haverá justiça universal, pois todos tanto saberão como sentirão que estão sendo tratados com justiça, que estão recebendo o que merecem, que as coisas estão seguindo o rumo que se supõe que deveriam seguir, que o bem está sendo recompensado. Certamente o mundo saberá que a justiça estará sendo feita e o mundo estará contente.

Esta é a justiça de Mashiach.