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18 — PAZ

Muitas vezes, nestas nossas mensagens, dissemos que Mashiach trará uma era de paz universal. Mesmo assim...

Todos os dias os jornais parecem trazer como manchete o mesmo evento: luta aqui, guerra lá. Só mudam os nomes. Ontem a Somália, anteontem os curdos, hoje a Bósnia, amanhã — ficaremos sofrendo por causa das batalhas e da matança e do ódio que começa — em algum lugar. Dia após dia, assim que a luta termina naquele canto, a hostilidade e o derramamento de sangue estarão naquele outro canto. O mundo parece ser um atoleiro de conflitos, sempre incapaz de resolver as diferenças, de harmonizar as divisões.

Certamente, qualquer pessoa “racional” se sentiria, aparentemente, desmoralizada. Por que não podemos fazer a paz? Será que a situação mundial será sempre tão deprimente?

E, então, se se disser a essa pessoa “racional” que Mashiach tornará as coisas melhores, é certo que a pessoa reagirá com ceticismo: o que é que Mashiach fará? Vai sacudir uma varinha mágica para acabar com o ódio? Isto é fantasia.

Mas Mashiach não é uma fantasia, ele é um conceito fundamental do Judaísmo, e o que ele virá realizar, incluindo a paz universal, é um fato da Lei Judaica. Maimônides, o grande sábio e filósofo judeu, explica, em seu renomado código legal, o Mishnê Torá, porque a rivalidade e o ódio cessarão com a vinda de Mashiach: com a vinda dele, a fonte emocional dos conflitos mundiais, sejam eles entre pessoas ou entre nações, desaparecerá por si mesma, porque todas as coisas materiais pelas quais lutamos, os “confortos das criaturas” da vida, existirão em abundância e estarão disponíveis para todos.

Como valor ostensivo, porém, esta explicação não parece ser suficiente. Afinal de contas, todos os desejos materiais, sozinhos, não explicam toda a animosidade do mundo. Mesmo que eles já tivessem o suficiente, as pessoas odeiam-se umas às outras por muitas razões — ou mesmo por nenhuma razão.

De forma que precisamos perguntar de novo: como pode a mesquinharia, que parece fazer parte intrínseca do homem, mudar tão facilmente? Será que a nossa única esperança é algum tipo de magia?

Não: a mudança na natureza humana que Mashiach efetuará não advirá de uma série de truques e ilusões, mas por meio da compreensão de nosso potencial íntimo para autotransformação, potencial que já existe dentro de cada um de nós. Podemos compreender o caráter desse potencial formulando uma pergunta simples e lógica: se o mundo é tão ruim, se foi sempre tão ruim, e estará sempre cheio de diferenças irreconciliáveis, por que as pessoas sempre buscaram a paz, e por que é que elas se incomodam de lutar pela paz agora? O que motiva tantos dentre nós a persistirmos na procura, a mantermos nossos ideais? Por que nos recusamos a aceitar a assim chamada “realidade” de um mundo de antagonismo e insistimos em que o respeito, a tolerância, a unidade — paz — descrevam a verdadeira condição humana?

A resposta do Judaísmo explica tanto a essência da pergunta como sua relação com Mashiach. Diz-nos o livro Gênese sobre a Criação: quando D’us começou a criar. A própria Criação é uma separação, uma divisão do finito e criado da sal Fonte, o Criador Infinito. A primeira diferenciação, aquela entre D’us e a Criação, o aparente desligamento do mundo físico de sua essência espiritual, se espelha no microcosmo do corpo e da alma. Aqui encontramos a origem de todas as demais divisões na Criação até lá embaixo, na ignóbil maldade entre povos e nações.

O Judaísmo também explica por que a Criação exige separação, fronteiras ao longo de toda a existência. Nosso propósito é remover as dicotomias, curar as rupturas e revelar a unidade essencial dentro das diferenças. A tarefa que D’us nos deu é fazer com que o mundo reconheça que a Criação não é independente, que o corpo é guiado pela alma. Toda carne verá, como diz o profeta, a Divindade essencial que unifica e sustenta toda a existência. Quanto mais removermos esta separação da divisão inicial, a Criação original, mais a própria Criação se tornará completa e mais perto estaremos de curar todas as divisões.

Toda vez que fazemos uma mitsvá, uma prece, estudamos a Torá, praticamos caridade, etc., trazemos D’us para este mundo, unimos o espiritual e o físico, unindo — reunindo, por assim dizer — Criador e Criação. Antes de Mashiach vir, não podemos ver ou sentir nossas próprias realizações. Mas a revelação de Mashiach nos possibilitará vermos com nossos próprios olhos a realidade que criamos, nos possibilitará reconhecermos que D’us e o mundo são realmente um. Quando for curada esta divisão básica, então todas as outras divisões — todas as demais fontes de conflito e hostilidade — conseqüentemente, serão curadas. O materialismo e o apelo emocional não nos cegarão, porque verdadeiramente veremos que toda a Criação outra coisa não é, senão uma manifestação de seu Criador.