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16 — PROFECIA

“E acontecerá posteriormente que derramarei Meu espírito sobre toda carne, e seus filhos e suas filhas profetizarão; seus anciãos terão sonhos, seus jovens terão visões.”

Assim falou o profeta Joel com relação aos tempos de Mashiach — “posteriormente”. Entre outros fenômenos, então, a vinda de Mashiach trará uma restauração, mesmo uma elevação, da profecia. Não somente teremos profetas como quando o Templo Sagrado existia em Jerusalém — pessoas reconhecidamente plenas de espiritualidade Divina — mas D’us derramará Seu espírito sobre toda carne “e seus filhos e suas filhas profetizarão”. Posteriormente — naqueles dias — com Mashiach — a profecia será tão abundante e acessível quanto a prometida riqueza material e o bem-estar físico. Como haverá paz universal, também haverá profecia universal.

Mas a profecia retornará não só com Mashiach, mas, como Maimônides explica, mesmo antes de Mashiach. A restauração da profecia será um dos prelúdios a Mashiach. Em sua famosa Epístola do Iêmen, Maimônides, o grande erudito legislador judeu, discute a questão de Mashiach e a da profecia. Lá, ele mostra que as palavras do profeta não-judeu Bilam indicam que a profecia reaparecerá no ano judaico de 4976, ou 1216 da era comum. Surpreendentemente, por volta daquela época, grandes cabalistas — místicos judeus — começaram a revelação pública dos segredos ocultos da Torá, um processo que continuou lentamente por centenas de anos. Entre eles havia homens, como Arizal, universalmente reconhecido como tendo ruach hacodesh, inspiração Divina.

E o advento do Baal Shem Tov, que se reconheceu ter visões proféticas, acelerou o processo de disseminação daqueles ensinamentos espiritualmente inspirados para todos os judeus e para o mundo todo.

O que dizer, então, da afirmação talmúdica de que desde a reconstrução do Segundo Templo, com o falecimento dos últimos dos profetas naquela ocasião, acabaram as profecias? Será que isto não contradiz Maimônides? Será que isto não significa que não pode mais haver profecia, não mais profetas — pelo menos até Mashiach?

Na verdade, se examinarmos mais detidamente as palavras do Talmud, podemos compreender o verdadeiro significado delas. Pois sempre houve profetas, pessoas escolhidas às quais foi concedido um grau de Divina Espiritualidade. De fato, o próprio Talmud fala de vários notáveis sábios contemporâneos que demonstraram um certo grau de visão profética ou introvisão. Claro que o Talmud não pode querer significar que a profecia cessou quando o próprio Talmud traz exemplos de profecia em seu próprio tempo. Razão pela qual o Talmud é cuidadoso ao dizer que a profecia só foi temporariamente interrompida, não destruída. Isto significa que terminou a era da profecia, pela necessidade de a instrução profética ter terminado e pessoas capazes de atingirem aquele nível se tornaram raras.

Podemos usar uma analogia para melhor compreendermos isto: quando um aparelho é plugado, ele funciona por receber eletricidade. Se o aparelho for desconectado, porém, devido a algum problema de funcionamento, a eletricidade ainda está dentro da parede, aguardando ser acionada. Assim, também, com a profecia: ela foi retirada da experiência comum porque, em geral, as pessoas não mais têm as qualificações para “se ligarem” à fonte da introvisão profética.

Mas assim que alguém digno, alguém com as qualificações necessárias aparecer, explica Maimônides, essa pessoa experimentará imediatamente uma visão profética. Diz Maimônides que ele próprio encontrou uma pessoa assim — um profeta. Esse profeta, um contemporâneo de Maimônides, viveu 800 anos atrás, muito depois de ter terminado a era da profecia.

Podemos encontrar provas adicionais de que não há restrições temporais quanto à profecia no Mishnê Torá, o monumental código de leis de Maimônides. Quando Maimônides discute as qualificações para ser um profeta, e o propósito disto, ele fala no presente do indicativo; a profecia não é relegada ao passado, mas permanece, de acordo com a Lei Judaica, sempre possível, algo de contemporâneo que prossegue ocorrendo para aqueles que se mostram dignos dela.

Exatamente quais são as qualificações de uma pessoa para se tornar profeta? Uma pessoa que se sobressaia pela sabedoria, caráter moral e autocontrole; uma pessoa que evite as vaidades do materialismo e que se concentra na realidade espiritual dentro de toda a criação — tais são os pré-requisitos. Outrossim, o profeta em potencial tem de servir a D’us com alegria, pois o espírito de profecia só vem como resultado de contentamento e alegria no coração.

Agora podemos compreender por que a profecia será restaurada, como ela se tornará lugar-comum com a vinda de Mashiach. Naqueles dias, todo o povo judeu praticará a Torá, e o fará com devoção e discernimento, atingindo eles mesmos o grau de profecia. O retorno dos profetas antes da vinda de Mashiach é a única maneira de D’us nos preparar para o florescimento da profecia, o tempo em que não só todos possuirão as qualificações para a profecia, mas também em que todos, homem ou mulher, cumprirão em sua própria vida o objetivo da profecia, que é o de revelar a Divindade inata que está dentro de todos nós.